Agora no fim do ano, pensamos muito no futuro. Metas, planos, mudanças. É quase automático. Mas existe um aspecto igualmente importante e menos discutido: olhar para trás. Não apenas para lembrar o que aconteceu, mas para reconhecer o que sustentou você ao longo do caminho. Esse reconhecimento tem nome. É gratidão. E a ciência começa a mostrar que ela não é apenas uma sensação agradável. É um fator biológico relevante para longevidade.
O que a ciência diz?
Em 2024, pesquisadores da Harvard T. H. Chan School of Public Health analisaram mais de 49 mil mulheres idosas ao longo de três anos. O resultado principal é bem intuitivo: níveis mais altos de gratidão se associaram a uma redução de 9% na mortalidade por todas as causas e 15% na mortalidade cardiovascular, mesmo após ajustes rigorosos para saúde física,
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estilo de vida, fatores sociais e indicadores emocionais. Ou seja, eles compararam pessoas com “problemas” iguais para não enviesar a análise.
O mecanismo mais estudado envolve o sistema de estresse. Quando alguém desenvolve uma prática regular desse reconhecimento há melhora no tônus do nervo vago e na variabilidade da frequência cardíaca, dois marcadores ligados à capacidade de recuperação fisiológica e ao stress. Isso se traduz em menor ativação inflamatória e menor desgaste crônico. A gratidão, nesse sentido, funciona como uma barreira no sistema que define como você responde ao mundo.
Mas ela também mexe na forma como o cérebro interpreta a realidade. A neurociência descreve que o cérebro humano tem um viés natural para detectar risco. Que é “útil”, mas que pode produzir um estado constante de vigilância. Estudos mostram que a prática consistente de gratidão ativa regiões frontais envolvidas em regulação emocional, reduz “ruminação” e aumenta a percepção de que algo está me suportando. Não significa ignorar problemas. Significa que, mesmo diante de dificuldades, existe uma força para reconhecer o que está presente e o que sustenta você.
E aqui entra algo importante, que muitas vezes passa despercebido. Gratidão, do ponto de vista científico, não significa “pensamento positivo”. Ela depende de dois passos:
- Reconhecer algo bom; e
- Atribuir essa experiência a algo que está fora de você.
Essa segunda parte muda completamente o efeito. Quando você reconhece que determinada experiência, ajuda, oportunidade ou momento não veio da sua força individual, algo muda. Você entende que a vida é construída com outros. Com pessoas. Com circunstâncias. Com o Divino. Esse movimento reduz o isolamento psicológico e reforça vínculos, que por si só são determinantes de saúde e longevidade.
Na prática
O interessante é que essa lógica conversa diretamente com a discussão sobre espiritualidade e longevidade. Nos dois casos, existe um deslocamento do centro. Em vez de você ser o centro, há um reconhecimento de que a vida é atravessada por relações, por cuidado, por provisão, algo além. A ciência pode medir efeitos fisiológicos, mas é essa percepção de interdependência que transforma a forma como alguém enfrenta perdas, incertezas e desafios. É isso que define resiliência.
E, como quase tudo que envolve neuroplasticidade, gratidão não depende de intensidade. Depende de repetição (reps). Todo dia alguns minutos. Os estudos mais eficazes usam práticas simples, como escrever diariamente três coisas pelas quais você tem gratidão e explicar por que elas foram importantes. Não basta listar.
- Errado: “Grato pelo café.”
- Certo: “Grato pelo café quente hoje de manhã porque me deu uma pausa necessária antes de uma reunião estressante.”
Gratidão não é levantar a mão para o céu e fingir que está tudo bem. É reconhecer que, apesar do que não deu certo, muita coisa nos deu base até aqui. E é nisso que tem um “segredo final”, que talvez a ciência tenha dificuldade de comprovar, o poder de conseguir ser grato mesmo pelos desafios, pelos problemas, confiante que apesar deles, “todas as coisas cooperam para bem…”.
Lasse Koivisto é membro da Healthy Longevity Medicine Society e mentor de diversas startups. Em 2020, iniciou um estudo aprofundado sobre longevidade e, recentemente, deu início ao projeto Alpha Origin, no qual publica semanalmente artigos que têm como propósito ajudar as pessoas a viverem mais e melhor na newsletter Longevidade News.
Em 2025 se tornou o primeiro colunista dos canais de comunicação das operadoras de saúde PASA e AMS em uma parceria para trazer mais informações aprofundadas e seguras para nossos beneficiários.



